terça-feira, 2 de dezembro de 2014

S10 Ecotec 2.5 FLEX: carregada de sensações

Cloves Barcellos
Faz um bom tempo que não víamos inovações significativas no segmento das picapes Flex. Muito pelo contrário, apesar do aumento nas vendas do segmento, muitos equipamentos foram subtraídos das listas de itens de série e de opcionais. O maior exemplo disso é a opção de tração 4x4 que simplesmente havia desaparecido e retorna agora no modelo testado, a nova S10 2.5 SIDI Ecotec Flex. A picape estreia também um novo conjunto mecânico, novos acertos de suspensão e melhorias no acabamento. A avaliação do modelo, realizada durante sete dias para o Pense Carros, você acompanha a seguir.
Nova-S10-FLEX


MOTOR E CÂMBIO
O novo bloco 2.5 SIDI é a grande mudança da S10 em sua nova linha. Construído em alumínio, possui duplo comando de válvulas de variação contínua, assim como o sistema de injeção direta de combustível identificado pela sigla SIDI na tampa traseira. Nesse sistema o motor trabalha com melhor eficiência volumétrica, já que o combustível é injetado diretamente na câmara de combustão.

Esse tipo de tecnologia garante maior agilidade percebida, normalmente em partidas e retomadas de velocidade. Outro destaque é a redução do consumo, já que temos uma queima mais eficiente, a própria General Motors fala em aproximadamente 6% de economia, se comparado com o motor 2.4 que segue sendo produzido, mas servindo somente a versão de entrada da picape a LS.
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Devido à injeção direta de combustível, o novo motor também elimina o famoso tanquinho de gasolina para partidas a frio. A engenharia norte-americana calibrou o sistema para uma injeção de combustível tão pressurizada que acaba aquecendo o combustível: na prática, a GM afirma que o sistema possibilita partidas eficientes em temperaturas baixas.

A 'GUERRA' PELA POTÊNCIA 
Já há algum tempo nos deparamos com comerciais de picapes, que dão sempre o destaque para a robustez e a potência de seus motores. Uma das primeiras a iniciar essa “guerra” pela maior potência foi a Nissan Frontier,consagrada no famoso comercial dos “pôneis malditos”. Logo após veio a Nova Ranger com seus 200 cv e a GM respondendo com a atualização do seu motor diesel, também levando a S10 aos 200 cv. Agora parece que a marca, não quer deixar para depois a resposta a essa disputa e se torna protagonista lançando o novo motor 2.5 de 206 cv. E esse fator é ainda mais significativo, pois a inovação não foi um motor diesel como o mercado esperava, mas sim, em um Flex.
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Falando em números, o novo motor entrega 197 cv quando abastecido a gasolina e, outros 206 cv, a etanol. Já os números de torque são 26,3 mkgf e 27,3 mkgf, respectivamente. Em comparação ao único motor Flex disponível anteriormente, o antiquado 2.4 de 147 cv e torque máximo de 24,1 mkgf, faz da adoção do novo Ecotec um grande passo para a picape da GM. Outro fator que contribui para o bom desempenho do novo conjunto mecânico é o câmbio manual de seis marchas muito bem escalonado que, apesar de tender a um escalonamento voltado para economia, não decepciona quando o assunto é agilidade. A embreagem leve lembra a utilizada nos veículos médios da marca, tornando a condução agradável.

EQUIPAMENTOS
A versão avaliada foi a topo de linha LTZ 4x4 com preço sugerido de R$ 105 mil, recheada de equipamentos de série. Ela conta com o sistema multimídia MyLink integrado a GPS e câmera de ré (item que, em conjunto com o sensor de estacionamento, deveria ser de série em qualquer picape média nessa faixa de preço), comandos de som e telefone no volante, além dos controles de estabilidade e tração, que ajudam a manter a picape sob controle em pisos irregulares e curvas sinuosas.

A versão LTZ também ganhou assistente de partida em rampas, que segura o veículo por alguns segundos para que o motorista arranque com segurança e o assistente de descida, que controla a velocidade em ladeiras sem a intervenção do motorista. Apesar da ampla lista de itens tecnológicos, a picape peca em itens simples como a falta de ajuste de profundidade do volante e a falta de um sistema antifurto para o estepe, que fica exposto abaixo da caçamba com tampa traseira muito pesada, embora ofereça fechamento manual.
Nova-S10-FLEX
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CONFORTO E ERGONOMIA 

Quando falamos em ergonomia, a S10 se sai muito bem. A posição do motorista é agradável, os ajustes são facilmente realizados com a ajuda da regulagem elétrica dos bancos (versão LTZ), mas poderia ser melhor se a picape oferecesse também regulagem de profundidade do volante, item ainda muito ignorado nessa categoria, mas indispensável em um veículo de sua faixa de preço. Apesar dessa falha, ainda foi possível para alguém com 1,80 m de altura, como eu, conseguir um acerto adequado que permitisse conforto.
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Falando um pouco mais de conforto, a versão LTZ conta com belos bancos em couro de dois tons de cinza, com abas laterais que ajudam a manter os ocupantes firmes em curvas e que dão ares de carro mais luxuoso do que realmente é.
O acabamento interno foi aprimorado nessa nova versão coma inclusão de materiais de melhor qualidade. É possível notar que, apesar de apresentar plástico rígido, o acabamento é de qualidade com bons encaixes, demonstrando uma boa preocupação da linha de montagem em deixar tudo alinhado, e, por isso, não são percebidos ruídos internos.

A empunhadura e o material do volante incomodam um pouco: parece fino demais e o material muito liso e escorregadio. Em contrapartida, o câmbio e o apoio central de braço estão muito bem posicionados, lembrando o modelo usado pela marca nos seus carros de passeio. O ajuste de troca do sistema de tração entre 4x2 e 4x4 está muito bem posicionado no console central, tornando mais fácil alternar os modos de tração ao enfrentar obstáculos.

AO RODAR
As picapes Flex vêm sendo cada vez mais utilizadas no circuito urbano. O perfil característico de seus proprietários é o do consumidor que procura um veículo robusto, de grande porte, mas que não será utilizado para serviços pesados, que necessitem dos grandes números de torque das versões a diesel. Ocasionalmente, o público-alvo faz uso da tração 4x4 em situações de trabalho ou lazer, mas na grande maioria do tempo, roda mesmo na cidade. Durante a semana de avaliação da S10, pude colocar a prova esse perfil de consumidor.
Já no primeiro momento rodando com a picape da GM no trânsito pesado de Porto Alegre,, noto a primeira diferença em relação a um veículo de passeio menor. Os outros motoristas se arriscam menos ao “cortar” a sua frente ou “fechar” você no trânsito, provavelmente pelo receio de que você não os tenha visto. Com isso se tem uma ligeira sensação se invencibilidade.

Por outro lado, já não é tão fácil e ágil realizar manobras de troca de pista como no carro compacto, o cuidado redobrado se torna prática. Mas nesse aspecto, ponto positivo para a S10 que, apesar do tamanho de aproximadamente 5,4 metros de comprimento e 2,10 de largura, oferece excelente visibilidade ao motorista.

Os retrovisores laterais têm tamanho acertado e até mesmo o retrovisor central que, em conjunto com a câmera de ré, são essenciais na rotina urbana. É claro que nem mesmo com essas facilidades podemos considerar a picape “prática” para a cidade, pois são diversas as situações em que você passa “sufoco” com o tamanho dela, seja ao estacionar no centro da cidade, no supermercado, no shopping ou até na simples troca de pista em um trânsito pesado.
Picapes médias possuem um acerto de suspensão voltado para carga e a S10 deixa isso bem claro apesar das melhorias efetuadas pela engenharia da marca norte-americana. Ao rodar sem carga na caçamba pelas esburacadas ruas da Capital - que mais parecem a superfície lunar ,- esse acerto fica evidente. A traseira trepida constantemente de forma violenta e desconfortável – que proporciona provavelmente uma sensação semelhante a que peões em rodeios experimentam ao montar em touros ensandecidos.

O modo mais rápido de obter uma suspensão mais confortável na cidade é acrescentar peso (aproximadamente 300 quilos) à traseira do veículo, para que o feixe de molas ceda. Porém, lembre que esse peso a mais resultará em maior consumo da S10, que já não é o ideal mas é um dos melhores da categoria. No circuito misto em que testei a picape, pude aferir com gasolina a média de 6 km/l na cidade e 9 km/l na estrada.

CONCLUSÃO
Esta coluna traz no título a expressão “carregada de sensações”, em alusão à campanha comercial da "S10, carregada de histórias”. Como usuário, posso dizer que são diversas as sensações ao conduzir a S10 2.5 Ecotec. Mesmo sendo um veículo de grande porte, a ergonomia, os equipamentos e as assistências, todos aliados ao novo motor e à excelente dupla de câmbio e embreagem, fazem a experiência de condução se aproximar da que é sentida nos veículos médios da GM. Até mesmo no consumo e no desempenho, a picape tem números semelhantes aos desses veículos.
A nova motorização Flex da S10, estabelece um novo patamar para a categoria em termos de tecnologia, consumo e desempenho, provando que é sim possível fornecer opções Flex completas e com tração 4x4 no mercado brasileiro, algo esquecido por outras marcas. Mas a Chevrolet peca em não oferecer a transmissão automática de seis marchas já existente nos modelos diesel. Uma picape de uso misto mas com foco urbano deveria oferecer essa opção, tornando sua condução mais confortável no intenso tráfego urbano das grandes cidades.
Embora itens de conforto e comodidade estejam amplamente presentes na versão avaliada, o seu DNA rural aparece na suspensão traseira que é demasiadamente desconfortável para trafegar quando descarregada. O sistema multimídia MyLink da linha GM possui todas as funcionalidades esperadas de um sistema desse tipo, porém, é extremamente falho ao escolher as melhores rotas. Em nenhum momento no traânsito da Capital acertou a rota ideal. Sendo assim, a GM precisa rever esse sistema.
Em suma, a S10 Ecotec é a picape Flex da vez, dotada do melhor conjunto entre as opções disponíveis em nosso mercado, voltada para aquele público que faz mais uso do veículo em cidade e que não necessita de um grande torque, mas que faz questão de andar em um veículo robusto e grande, fazendo uso eventual da tração 4x4 em terrenos irregulares.
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Ela não é pratica no dia a dia, será difícil encontrar vagas no centro da cidade,o seguro não é muito barato, o preço é alto, a suspensão não é confortável... Mas sinceramente, se você é um “aventureiro urbano”, que na maior parte do tempo (em torno de 70%) usa o o veículo na rotina diária na cidade, você estará melhor servido com modelos como oRenault Duster 4x4, o Ford Ecosport 4x4 ou o crossover AWD. Já se você precisa de um grande espaço para carga, tração 4x4, sem pagar os altos preços das versões a diesel, a S10 2.5 é uma boa opção.

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